SENHOR, AJUDA-ME A SER UMA PESSOA QUE PERDOA
Ao longo de minha infância, minha mãe abusava de mim, mas não meu pai. Quando me tornei cristã, a coisa óbvia a fazer era perdoar minha mãe. Foi só vários anos mais tarde que Deus me revelou que eu não havia perdoado meu pai. Quando um conse¬lheiro cristão com quem eu conversava sobre a inquietação e frus¬tração de minha alma me perguntou se havia algo pendente em relação ao meu pai, respondi que não. Por que haveria? Não foi ele que abusou de mim. No entanto, quando o conselheiro pediu que eu orasse e pedisse a Deus que me mostrasse a verdade, uma vida inteira de fúria, raiva, mágoa, rancor, bem como lágrimas e mais lágrimas inundaram todo o meu ser. Bem no fundo, sentia que meu pai não havia me salvado. Em momento algum ele havia me livrado da insanidade de minha mãe. Ele nunca havia me tirado do armário onde ela me trancava por tanto tempo no início de minha infância. Não percebi quanto eu o culpava por permitir que minha mãe, que ele sabia que sofria de uma doença mental grave, tivesse me tratado com tanta crueldade. Naquele dia, quando o perdoei, senti uma paz que jamais havia experimentado.
Com freqüência, não reconhecemos o rancor que existe dentro de nós. Achamos que somos pessoas que perdoam, mas na verdade não somos. Se não pedimos a Deus que nos revele nosso rancor, talvez nunca nos libertemos das garras paralisantes desse mal em nossa vida. Uma boa parte do processo de nos certificarmos de que nossa vida está em ordem diante de Deus está relacionada a perdoar outras pessoas. Jamais poderemos alcançar tudo o que Deus tem para nós se não perdoarmos.
Uma excelente escolha
Sei que "ódio" é uma palavra muito forte e detestamos usá-la para qualquer coisa. Certamente detestamos a idéia de que talvez tenha¬mos, de fato, ódio a outra pessoa. É justamente nisso que consiste o rancor - ele é a raiz do ódio. Quando alimentamos pensamentos rancorosos, eles se transformam em ódio dentro de nós. João levava isso tão a sério que disse: "Todo aquele que odeia a seu irmão é assas-sino; ora, vós sabeis que todo assassino não tem a vida eterna perma¬nente em si" (1 Jo 3:15). Jesus disse: "E, quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai, para que vosso Pai celestial vos perdoe as vossas ofensas" (Mc 11:25).
Vamos deixar isso bem claro. Quando não perdoamos, somos considerados assassinos sem nenhuma esperança eterna e não deve¬mos contar com o perdão de Deus até que tenhamos perdoado os outros. Eu diria que entre perdoar e não perdoar, perdoar parece ser a melhor escolha.
Quando decidimos não perdoar, acabamos andando em trevas (1 Jo 2:9-11). Pelo fato de não podermos ver claramente, ficamos confusas e tropeçamos. Isso interfere em nossa capacidade de julgar corretamente, e assim cometemos erros. Tornamo-nos fracas, doen¬tes e amargas. Outras pessoas percebem tudo isso, pois o rancor aparece no rosto, nas palavras e nas ações daqueles que o carregam consigo. Mesmo que não consigam identificar especificamente o que é, as pessoas vêem isso e não se sentem à vontade perto de nós. Quando decidimos perdoar, não apenas nós mesmas somos benefi¬ciadas, mas também as pessoas ao nosso redor.
A família em primeiro lugar
E muito fácil guardar rancor de membros da família, pois são eles que passam mais tempo conosco, nos conhecem melhor e podem nos magoar com maior profundidade. No entanto, por esses mesmos motivos, o rancor para com um deles pode causar grande destruição em nossa vida. É por isso que o perdão deve começar em casa.
Em primeiro lugar, é muito importante ter certeza de que você perdoou seus pais. A Bíblia é extremamente clara quanto a isso. O quinto mandamento diz: "Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR, teu Deus, te dá" (Êx 20:12). Se você não honrá-los, sua vida será encurtada. E você não tem como honrá-los, se não perdoá-los.
Decidi perdoar minha mãe porque desejava obedecer a Deus e alcançar tudo que ele tinha preparado para mim. Deve ter funciona¬do, pois olhe só quantos anos eu tenho. No entanto, perdoá-la uma vez não significou que nunca mais precisei me preocupar com isso. Camadas e mais camadas de rancor haviam se acumulado dentro de mim ao longo dos anos e descobri que precisava perdoá-la de novo cada vez que uma dessas camadas vinha à tona. Na verdade, precisava perdoá-la cada vez que me encontrava com ela, pois com o passar dos anos ela foi ficando cada vez pior.
Confessar um dia o rancor que sentimos por outra pessoa não sig¬nifica que não teremos rancor dentro de nós no dia seguinte. E por isso que perdoar é uma escolha que devemos fazer diariamente. Nós esco¬lhemos perdoar, quer tenhamos vontade de fazê-lo, quer não. Trata-se de uma decisão e não de um sentimento. Se esperarmos pelos senti-mentos bons, pode ser que acabemos esperando a vida inteira. Se te¬mos qualquer amargura ou rancor, a culpa é sempre nossa por não abrirmos mão deles. É nossa responsabilidade confessá-los a Deus e pedir que ele nos ajude a perdoar e prosseguir com nossa vida.
Precisamos também pedir que Deus nos mostre se há outros mem¬bros da família que precisamos perdoar. Normalmente, não nos ve¬mos como pessoas rancorosas. Talvez irritadas, mas não rancorosas. No entanto, é necessário lembrarmos que nossos padrões são muito mais baixos que os de Deus e, portanto, muitas vezes não vemos quando precisamos perdoar. Peça a Deus que lhe revele qualquer rancor que você tenha de algum parente. Enquanto você não resolver isso, vai se sentir péssima.
Quando você não consegue perdoar
Perdoar não é fácil. Contudo algumas vezes parece absolutamente impossível diante do sofrimento devastador e terrível por que passa¬mos. Se você tem dificuldade em perdoar alguém, peça a Deus que a ajude. Foi o que eu fiz em relação a minha mãe e, quando ela faleceu, eu não sentia mais nenhum rancor por ela. Se lhe vem à mente al-guém que é difícil você perdoar, peça a Deus que lhe dê um coração cheio de perdão por essa pessoa. Ore por ela de todas as formas que puder imaginar. É incrível como Deus enternece nosso coração quando oramos pelas pessoas. Nossa raiva, ressentimento e mágoa transfor¬mam-se em amor.
No entanto, não se preocupe. Quando perdoamos alguém, isso não faz com que essa pessoa esteja certa nem justifica seus atos. Per¬doar as pessoas as coloca nas mãos de Deus para que ele possa lidar com elas. Na verdade, o perdão é a melhor vingança, porque não apenas nos liberta da pessoa que perdoamos como também nos liber¬ta para prosseguirmos e alcançarmos tudo o que Deus tem para nós. O fato de perdoarmos alguém não depende de essa pessoa admitir sua culpa ou pedir desculpas. Se fosse assim, a maioria de nós jamais seria capaz de fazê-lo. Podemos perdoar independentemente do que a outra pessoa faça.
Algumas vezes, acontecem coisas tão devastadoras em nossa vida que podemos passar anos sem dar conta da amargura que temos por causa delas. Às vezes, não perdoamos a nós mesmas e, assim, nos con¬denamos a uma vida inteira de castigo por seja lá o que for que fize¬mos ou deixamos de fazer. Algumas vezes culpamos Deus por certas coisas que aconteceram. Peça a Deus que lhe mostre se uma dessas situações é seu caso. Não deixe que a falta de perdão limite o que Deus deseja fazer em sua vida.
O que for preciso
Quatrocentas e noventa! Esse é o número de vezes que devemos per¬doar uma pessoa. Pedro perguntou a Jesus: "Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes?" Respondeu-lhe Jesus: "Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete" (Mt 18:21,22). É possível que você consiga pensar em alguém que vai ter de perdoar 490 vezes por dia, mas a questão é que Deus deseja que perdoemos quantas vezes for preciso. Ele quer que sejamos pessoas que perdoam.
Jesus contou a história de um homem que foi perdoado de uma grande dívida que tinha com seu senhor. Ainda assim, logo depois disso, mandou seu pobre servo para a cadeia porque este não pôde lhe pagar uma pequena dívida. Quando o senhor ficou sabendo dis¬so, falou: "Perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como tam¬bém eu me compadeci de ti? E, indignando-se, o seu senhor o entre¬gou aos verdugos, até que lhe pagasse toda a dívida. Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão" (Mt 18:32-35).
Isso é muito sério. Nós que aceitamos Jesus fomos perdoadas de uma dívida enorme. Não temos direito nenhum de deixar de perdoar os outros. Deus diz: "Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou" (Ef 4:32). Se não perdoarmos, seremos pri¬sioneiras de nosso ódio, torturadas por nossa amargura.
Tudo o que fazemos na vida e que tem valor eterno gira em torno de duas coisas: amar a Deus e amar aos outros. É muito mais fácil amar a Deus do que aos outros, mas Deus considera ambos a mesma coisa. Um dos gestos mais amorosos que podemos realizar é perdoar. E difícil perdoar aqueles que nos magoaram, ofenderam e maltrata¬ram. No entanto, Deus deseja que amemos até nossos inimigos. Ao longo desse processo, ele nos aperfeiçoa (Mt 5:48). Vai ser sempre fácil encontrarmos algo para não perdoarmos. Precisamos parar de procurar.
Deus deseja que você alcance tudo o que ele tem para você. Se, porém, você não perdoar, fica presa onde está e impede que Deus trabalhe em sua vida. O perdão abre seu coração e sua mente e per¬mite que o Espírito Santo opere em você livremente. Ele liberta você para ter mais amor por Deus e sentir em maior medida o amor dele por você. Sem isso, a vida não vale a pena.
Minha Oração a Deus
Senhor,
Ajuda-me a ser uma pessoa que perdoa. Mostra-me os casos em que não o sou. Expõe os lugares mais profundos de minha alma para que eu não fique presa ao rancor e coloque em risco meu futuro. Se há dentro de mim qualquer raiva, amargura, ressenti¬mento ou rancor que não estou reconhecendo, revela-os e eu os confessarei a ti como pecado. Peço-te de maneira específica que me ajudes a perdoar completamente (mencione a quem você deve perdoar). Faze-me compreender a profundidade de teu amor por mim para que eu não deixe de conceder o perdão a outros. Sei que o fato de eu perdoar alguém não faz com que essa pessoa esteja certa, mas sim que eu fique livre. Também sei que tu és o único que conhece toda a história e que tu farás justiça.
Ajuda-me a perdoar a mim mesma pelas vezes em que fracas¬sei. E, se te culpei por coisas que aconteceram em minha vida, mostra-me para que possa confessar isso diante de ti. Capacita-me para que eu ame meus inimigos conforme tu ordenaste em tua Palavra. Ensina-me a abençoar os que me amaldiçoam e me per¬seguem (Mt 5:44,45). Faze-me lembrar de orar por aqueles que me magoam ou ofendem afim de que eu tenha um coração terno para com eles. Não quero tornar-me uma pessoa dura e amarga pelo rancor. Faze-me alguém que não tarda em perdoar.
Senhor, mostra-me se há algum rancor para com minha mãe ou meu pai por qualquer coisa que tenham feito ou deixado de fazer. Não quero encurtar minha vida por não honrá-los e que¬brar esse importante mandamento. E onde o rancor me afastou de outro membro da família, peço-te que derrubes esse muro. Ajuda-me a perdoar sempre que for preciso. Nos casos em que posso ser um instrumento de reconciliação entre outros membros da fa¬mília cujo relacionamento encontra-se rompido ou desgastado, capacita-me para fazê-lo.
Senhor, não quero que nada se coloque entre nós e não quero que minhas orações sejam interrompidas por eu haver alimentado o pecado em meu coração. No dia de hoje, decido perdoar todas as pessoas e todas as coisas e me libertar da morte que o rancor traz. Se qualquer pessoa sente rancor por mim, peço-te que enterneças seu coração para me perdoar e mostra-me o que posso fazer para resolver essa questão entre nós. Sei que não posso ser uma luz para outros enquanto estiver andando nas trevas do rancor. Escolho andar na luz, como tu estás na luz, e ser purificada de todo o pecado (1 Jo 1:7).
As Promessas de Deus para Mim
Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados.
Lucas 6:37
A discrição do homem o torna longânimo, e sua glória é per¬doar as injúrias.
Provérbios 19:11
Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste.
Mateus 5:44,45
Aquele, porém, que odeia a seu irmão está nas trevas, e anda nas trevas, e não sabe para onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos.
1 João 2:11
Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens [as suas ofensas], tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas.
Mateus 6:14,15
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